terça-feira, 22 de junho de 2010

Uma ponte entre gerações

É tão difícil para nós ultrapassar velhos padrões de pensamento, desafiar aquilo que aceitamos e tomamos como garantido. Mas enquanto não desafiarmos os nossos velhos hábitos, não podemos ser verdadeiramente criativos. E essa capacidade de sermos criativos, de fazermos nascer ideias novas, revolucionárias, é fundamental se quisermos enfrentar os problemas do mundo em que vivemos. Vivemos num mundo em que a mudança é uma constante que nos desafia, e não podemos abordar novos problemas com velhas soluções em mãos. O mundo carece de mudança. De tanta mudança que é difícil decidir por onde começar. Talvez o despertar duma consciência colectiva, segundo a qual funcionemos como um todo integrado, como uma espécie coesa. Talvez o estimular duma inteligência criativa que nos permita lidar com o ambiente duma forma mais sábia.
Independentemente da mudança que decidamos escolher do vasto catálogo, acho que temos de virar as nossas atenções para algo que contribui imenso para o que somos, a nível indivídual e cultural: a educação. A educação é a nossa anfitriã neste mundo, é quem constrói as bases para o nosso desenvolvimento como seres humanos, é uma ferramenta com um potencial de transformação colossal. Mas enquanto essa ferramenta estiver aprisionada por velhos padrões de pensamento, não passará disso mesmo - dum potencial, duma flor de imensa beleza que nunca desabrochou.
Um exemplo de uma iniciativa que desafia as nossas ideias ultrapassadas chega dos Estados Unidos, mais especificamente de Oklahoma. Desafia a nossa visão de segmentação etária. Desafia a ideia de que cada um tem de cumprir um determinado papel pré-concebido na sociedade, de que os novos devem aprender na escola e aqueles com muita experiência de vida devem passar o resto dos seus dias em "retiros", excluídos da sociedade. No distrito de Jenks encontra-se em curso uma versão muito especial dum programa educativo de leitura instaurado pelo estado de Oklahoma, programa este que tem como alvo crianças com idades entre os 3 e os 5 anos. Em Jenks, no entanto, foi-se mais além, graças à união dos esforços duma escola de ensino básico e do lar de idosos Grace Living Center. A ideia inicial era apenas fornecer um espaço de aprendizagem às crianças, mas rapidamente se passou a uma experiência conjunta entre as crianças e os residentes do lar. O programa Book Buddies é um programa que emparelha uma criança e um senior, e em que a criança lê para o seu companheiro de forma a praticar a leitura. Esta iniciativa está a ter óptimos resultados, pois as crianças estão a ter, na maior parte das vezes, melhores performances na leitura comparativamente às crianças das outras escolas do distrito, sendo que mais de 70 destas crianças termina o programa com um nível de leitura equivalente ao da 3ª classe (ou superior). Convém relembrar que estas crianças acabam o programa com apenas 5 anos! Mas os bons resultados vão além do mérito académico. As crianças absorvem a sabedoria dos mais velhos, partilham as suas experiência, e adquirem uma visão social mais ampla. Mas a beleza deste programa não fica por aqui! O que se passou foi que muitos dos residentes do lar reduziram ou deixaram de tomar os seus medicamentos. A sua vida deixou de ser uma espera passiva pelo fim, e ganhou um sentido, uma razão para acordar todos os dias, e esse sentido trouxe-lhes vitalidade e saúde.
Esta simples medida de integração que poderia ser replicada sem grandes custos, traz enormes vantagens sociais. Tudo o que foi necessário foi um pouco de criatividade, e conseguiu-se melhorar a educação (académica, mas acima de tudo humana) das crianças, trazer um sentido de vida para quem já não o tinha, estabelecer uma ponte entre gerações, potenciar uma grande troca de experiências e sabedoria (sim, porque as crianças têm imenso para ensinar, se estivermos predispostos a isso!). Este tipo de ideias e iniciativas inspira-nos a olhar o mundo à nossa volta de forma diferente. Incita-nos a olhar com olhos criativos, com uma mente imaginativa, e que importante que isso é se queremos mudar o mundo para melhor!

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