segunda-feira, 23 de maio de 2011

Castelos na areia, depois cinzas,e finalmente... Fénix!

É interessante a ambiguidade da expressão "ter nascido". Todos nós diríamos que já nascemos, que estamos vivos. Mas será que sabemos o que é estar vivo? Estamos vivos quando passamos a vida a flutuar na superfície? Somos completos quando brincamos ao carnaval 365 dias por ano? Eu acho que quem cola uma máscara morre um pouco. É só a minha forma de ver as coisas. Colar uma máscara é deixar-se adormecer, é não expressar a sua forma mais fundamental e mais natural, é ser um autómato que age, que processa informação, que reage, mas que não sabe que está vivo. As máscaras são castelos na areia que não estão destinados a durar. Porque as ondas continuam a vir. Por vezes só ameaçam, outras vezes só fazem cócegas e tiram um bocadinho de areia. Mas às vezes atacam, empurram, batem, esfolam, e destroem o castelo que parecia tão sólido. Parecia tão real e afinal era uma máscara. E o fogo das ondas incendeia a máscara e faz dela cinzas. A vida não são máscaras nem são cinzas. A vida não são castelos na areia. Estes artifícios efémeros também fazem parte da vida. Temos de os construir para perceber que não têm pilares, e tudo o que não tem pilares é arrancado pela força do vento. É um dia importante na nossa vida quando nos apercebemos que andamos a brincar aos castelos na praia. Há dias em que doi, porque é duro arrancar máscaras, largar o que pensamos que é nosso. Noutros dias sente-se uma alegria imensa, uma leveza, uma ligeireza de quem relaxa e se deixa levar pelas ondas.
A partir do momento em que acordamos e abrimos os nossos olhos para a fragilidade dos castelos, em que percebemos que as caras afinal eram máscaras, transfigura-se o nosso caminho. Sentimos que estamos mais vivos. Sentimos que nascemos. Cada pequeno despertar para a nossa realidade interior é um renascimento. Cada libertar dum fragmento de máscara, cada embalo de uma onda... são renasceres. São libertares. São o lavar dos castelos pelas ondas do mar furioso que se acalma. São o queimar das máscaras por explosões de fogo que se apaga. São soprares das cinzas por ventos furiosos que abrandam. E do meio das cinzas desperta um ser mais forte, renovado, que ri, que chora, que cai e que se levanta, que renasce uma e outra vez.